PALAVRAS LEVA-AS O VENTO
Palavras leva-as o vento?
Para onde as leva ele
Se há palavras que se prendem
Como grude à nossa pele?
Há palavras que nos queimam a garganta
Antes de as pronunciar
Palavras que nos mordem os artelhos
Como à rama da batata os escaravelhos.
Há palavras vomitadas
Para o mundo dizimar.
A guerra quem a diz e quem a faz?
Alguém capaz ou incapaz
De amar e por amor fazer a paz?
No hospital um doente o que celebra?
A palavra ou o sacrifício?
Na boca de muitos as palavras
Não são palavras
São ossos do ofício.
A palavra salvação
Na boca de um vendedor de ilusões
Inventa castelos na areia
No mar das aflições.
Quanto mais me bates
Mais me desgosto de ti.
As palavras de arrependimento
Prendem-se aos lábios
Como bosta às paredes da sanita
Como larvas a um cadáver putrefacto.
Há palavras que não passam de artefacto
Palavras inquietantes
Palavras que ferem
Palavras mortais
Palavras infectas
Envenenadas setas.
Há palavras que prometem Céus e Terra
Palavras domingueiras
Palavras traiçoeiras
Palavras cabreiras
Palavras pedradas
Palavras que não dão
Nem carne nem leite nem pão.
Há palavras que são dados
Para jogar a triste sorte
Palavras que prometem vida
E são de morte
Palavras que se forjam
Palavras sem norte
Palavras nem sãs nem escorreitas
Palavras carregadas de maleitas
Palavras de lamento
Palavras não amadas
Palavras não levadas
Palavras choradas pelo vento.
(André Moa in Diário de um paciente)
1 Comentários:
eu que sou uma verdadeira e profunda apaixonada pela PALAVRA, adorei este teu presente :)
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