...É PRECISO TER ASAS,PARA SE AMAR O ABISMO...

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Foto de: Fotógrafa

PALAVRAS LEVA-AS O VENTO



Palavras leva-as o vento?

Para onde as leva ele

Se há palavras que se prendem

Como grude à nossa pele?



Há palavras que nos queimam a garganta

Antes de as pronunciar

Palavras que nos mordem os artelhos

Como à rama da batata os escaravelhos.



Há palavras vomitadas

Para o mundo dizimar.

A guerra quem a diz e quem a faz?

Alguém capaz ou incapaz

De amar e por amor fazer a paz?



No hospital um doente o que celebra?

A palavra ou o sacrifício?

Na boca de muitos as palavras

Não são palavras

São ossos do ofício.



A palavra salvação

Na boca de um vendedor de ilusões

Inventa castelos na areia

No mar das aflições.



Quanto mais me bates

Mais me desgosto de ti.

As palavras de arrependimento

Prendem-se aos lábios

Como bosta às paredes da sanita

Como larvas a um cadáver putrefacto.



Há palavras que não passam de artefacto

Palavras inquietantes

Palavras que ferem

Palavras mortais

Palavras infectas

Envenenadas setas.



Há palavras que prometem Céus e Terra

Palavras domingueiras

Palavras traiçoeiras

Palavras cabreiras



Palavras pedradas

Palavras que não dão

Nem carne nem leite nem pão.



Há palavras que são dados

Para jogar a triste sorte

Palavras que prometem vida

E são de morte



Palavras que se forjam

Palavras sem norte

Palavras nem sãs nem escorreitas

Palavras carregadas de maleitas



Palavras de lamento

Palavras não amadas

Palavras não levadas

Palavras choradas pelo vento.

(André Moa in Diário de um paciente)

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

eu que sou uma verdadeira e profunda apaixonada pela PALAVRA, adorei este teu presente :)

6 de novembro de 2008 às 05:36  

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