...É PRECISO TER ASAS,PARA SE AMAR O ABISMO...

quarta-feira, 5 de novembro de 2008


Gosto quando te calas

porque estás como ausente e escutas-me de longe;

a minha voz não te toca.

É como se tivessem esses teus olhos voado,

como se houvesse um beijo lacrado a tua boca.


Como as coisas estão repletas de minha alma,

repleta de minha alma, das coisas te irradias.

Borboleta de sonho, és igual à minha alma,

e te assemelhas à palavra melancolia.


Gosto quando te calas e estás como distante.

Como se te queixasses, borboleta em arrulho.

E escutas-me de longe. Minha voz não te alcança.

Deixa-me que me cale com o teu silêncio puro.


Deixa-me que te fale também com o teu silêncio

claro qual uma lâmpada, simples como um anel.

Tu és igual à noite, calada e constelada.

O teu silêncio é de estrela, tão remoto e singelo.


Gosto quando te calas porque estás como ausente.

Distante e triste como se tivesses morrido.

Uma palavra então e um só sorriso bastam.

E estou alegre, alegre por não ter sido isso.


Pablo Neruda in 20 Poemas de Amor e uma canção desesperada

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